Questões ambientais, sociais, de governança e financeiras no mercado seguros

Temas foram abordados no I Encontro de Sustentabilidade e Inovação do Setor de Seguros; Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros 2015 foi lançado durante o evento no Rio de Janeiro

“Sustentabilidade e Inovação estão intrinsicamente relacionados à atividade do Seguro”, afirmou o presidente da CNseg, Marcio Coriolano, durante a abertura do I Encontro de Sustentabilidade e Inovação do Setor de Seguros, promovido pela CNseg, em sua sede, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira, 29 de julho. O evento, que reuniu mais de 100 pessoas, entre as quais, lideranças do mercado segurador, foi palco do lançamento do Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros 2015, que apresenta, em números, os avanços dessa indústria no tratamento das principais questões ambientais, sociais e de governança e, nas palavras do presidente da CNseg, “é um importante meio pelo qual ela avança na aproximação com a sociedade brasileira, mostrando e comprovando sua força como agente de desenvolvimento social e econômico do País”.

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E para dar sustentação prática a esse discurso, afirmou Coriolano, a Confederação está lançando neste mês um programa de apoio a ideias inovadoras, as chamadas startups, por meio da CNspar, um braço de participação e investimento em inovações para atrair para o setor novas ideias que possam aprimorar processos, sistemas e produtos. E pensando no aprimoramento das relações com os consumidores e com a sociedade em geral, a CNseg também aposta em seu recém-criado Programa de Educação em Seguros, que trata-se de um conjunto de ações para disseminar, de forma simples e direta, as principais questões relacionadas ao mercado segurador.

Mas o presidente da CNseg também destacou a necessidade de se falar da sustentabilidade da atividade do seguro do ponto de vista de políticas macro e micro econômica, lembrando que o mercado acumula mais de 800 bilhões de reais em termos de garantias, que se constituem em importante fonte de financiamento, tanto para o setor público, como para o setor privado, e uma importante alavanca para o desenvolvimento do Brasil.

A busca por um diálogo franco, democrático e técnico

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Essa preocupação com a sustentabilidade financeira do setor foi ressaltada também pelo presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), José Carlos Abrahão que participou da cerimônia de abertura do Encontro. Em linha com a fala de Marcio Coriolano, Abrahão reiterou que a definição da sustentabilidade na saúde e no seguro não é apenas a sustentabilidade ambiental. “É a sustentabilidade assistencial, da busca do equilíbrio econômico e financeiro. A sociedade está cada dia mais empoderada, a cada dia nos cobra mais e tem um nível de consciência maior. Precisamos trazê-la para participar e comungar disto. E isto só vai acontecer por meio do diálogo. O consumidor é a razão da nossa existência”, afirmou. “Nós vivemos um momento social e político muito delicado e compete a todos nós ter tranquilidade e serenidade. A saúde depende fundamentalmente da construção de um diálogo franco, democrático e técnico. Precisamos trabalhar a gestão de risco, trabalhar a análise do impacto da legislação e trabalhar a previsibilidade. Nenhum segurador trabalha se não tiver seus olhos na previsibilidade. E esta é a missão do órgão regulador. Temos que prover segurança jurídica para diminuir uma situação que hoje tanto se fala, que é a judicialização da saúde”, observou.

Velho antes de rico

O economista Marcos Lisboa, atual presidente da instituição de ensino superior Insper, apresentou a palestra “Velho antes de rico”, em que criticou o excesso de proteção dada pelos governos brasileiros, ao longo da história, a empresas nacionais ineficientes e a interesses corporativos de curto prazo, alertando também para a necessidade de uma urgente reforma na previdência social em um país que atravessa uma rápida transição demográfica, antes de atingirmos uma aspiral insustentável da dívida pública.

Um retrato do mercado segurador em relação às questões ASG

Para apresentar detalhes do Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros 2015, que de acordo com a presidente da Comissão de Sustentabilidade e Inovação da CNseg, Fátima Lima, é um retrato de como está o mercado segurador em relação às questões ASG (Ambiental, Social e de Governança), foi convocado Álvaro Almeida, o fundador da Report, consultoria que colaborou na elaboração do documento.

O documento, que segue a quarta geração de indicadores da Global Reporting Initiative (GRI), reúne as informações das 23 maiores empresas seguradoras brasileiras, representantes de quase 80% do faturamento do setor, e exibe as práticas sustentáveis mais e menos disseminadas, bem como seus níveis de aplicação e aprofundamento.

Atualmente, por exemplo, 67% das empresas associadas à FenaSaúde realizam a gestão e mitigação de suas emissões de gases do efeito estufa e 95% de todas as seguradoras ouvidas fazem o monitoramento e o tratamento de questões relacionadas à conduta ética. De acordo com Álvaro, um dos principais objetivos do documento é tornar-se um indutor de elevação do nível médio das práticas ASG no setor. Lembrando o quanto ainda precisamos avançar nessas práticas, Fátima destacou que apenas 50% das seguradoras já possuem comitês específicos para avaliar o impacto dos produtos lançados nas questões ASG.

A experiência internacional

A gestão da Sustentabilidade pela indústria internacional de seguros foi o tema apresentado pela diretora de Inclusão Financeira e Sustentabilidade da Federação das Seguradoras Colombianas (Fasecolda), Alejandra Díaz Agudelo. Gestão, esta, que enfrenta uma série de riscos, como as mudanças climáticas, crescimento populacional, falta de água, perda de biodiversidade, entre tantos outros. Assim, segundo Alejandra, o grande desafio para o setor é conseguir articular o desenvolvimento econômico ao desenvolvimento social e à proteção do meio ambiente por meio da utilização de boas políticas de governança. Para isso, fazem-se necessárias mudanças nas políticas públicas, nas expectativas dos consumidores, na volatilidade dos preços e nas infraestruturas das empresas. Ao fim de sua apresentação, a executiva colombiana ainda afirmou que as indústrias seguradoras brasileira e mexicana são as grandes referências para a colombiana.

A necessidade de experimentar para inovar

O I Encontro de Sustentabilidade e Inovação do Setor de Seguros foi encerrado com um debate mediado por Álvaro Almeida, com a participação do superintendente de TI da Sul América, Alexandre Putini; do diretor Executivo da Bradesco Seguros, Eugênio Velasques; do gerente de Inovação do BB Mapfre, Fernando Bettine; do reponsável por Pesquisa e Inovação da Liberty, José Mello, e da superintendente de Gestão Estratégica da Brasilprev, Mariane Marinho.

Entre as conclusões do debate, a necessidade de experimentação para inovar, principalmente em um setor conservador como o segurador. Inovação que gera valor, tanto para as empresas como para seus clientes, mas que, para ser bem-sucedida, precisa contar com empresas conectadas aos valores das sociedades em que estão inseridas.

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