Retrato atual da educação financeira (no Brasil e no mundo)

Confira a coluna do consultor da FenaCap, Álvaro Modernell 

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) recentemente divulgou o relatório da Pesquisa Internacional de Competências de Alfabetização Financeira para Adultos. Nele, os resultados e análise de um estudo sobre conhecimento, atitude e comportamento financeiro de uma amostra de mais de 50 mil adultos, distribuídos em 30 países.

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Os resultados indicam que o nível de letramento financeiro (conhecimento sobre finanças pessoais) é baixo no mundo todo, apesar das muitas ações já realizadas. O Brasil ficou 1,2% abaixo da média mundial. De certa forma isso era esperado, haja vista que a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), tem pouco mais de seis anos de vigência, apenas, enquanto outros países iniciaram antes essas ações.

A medição foi feita por meio de um questionário dividido em três áreas: conhecimento, comportamento e atitude financeira. No quesito Conhecimento Financeiro, menos da metade dos brasileiros conseguiu atingir a pontuação mínima desejada. O desconhecimento sobre juros compostos foi o item que mais chamou a atenção. Menos de 1/3 acertou a pergunta sobre esse assunto e apenas 18% acertaram a questão que envolvia a combinação de juros simples e compostos.

Os resultados segmentados por gênero continuam apontando menos conhecimento e necessidade de mais ações direcionadas ao público feminino, responsável pela maioria das decisões financeiras domésticas. Na média global, 61% dos homens atingiram a pontuação mínima, contra 51% das mulheres. Entre os brasileiros, os percentuais ficaram em 52% e 44%, respectivamente.

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No que diz respeito ao Comportamento Financeiro, 51% dos participantes acertaram o mínimo esperado, 6 pontos de 9. Entre os brasileiros, esse índice ficou abaixo dos 40%. A maioria dos pesquisados respondeu que não realiza pesquisa de preços antes de adquirir produtos financeiros (investir, tomar empréstimos, contratar serviços, etc.) e não costuma buscar aconselhamento financeiro. Ou seja, a mesma pesquisa indica que a população, apesar de não ter bom conhecimento financeiro, não tem o hábito de buscar aconselhamento ou consultoria, potencializando seus erros e perdas.

Na medição do quesito Atitudes Financeiras, a metade dos participantes atingiu a pontuação mínima, incluindo os brasileiros. Como os índices foram menores nos quesitos conhecimento e comportamento, pode-se atribuir ao empirismo e instinto de sobrevivência essa pequena melhora nos índices das atitudes.

Segundo o relatório, a análise das atitudes em relação a finanças concluiu que há uma tendência mundial ao imediatismo. Isso se reflete em pouca visão ou preocupação com o futuro – inclua-se aí a visão precária dos aspectos previdenciários, cada vez mais preocupantes no Brasil e no mundo.

Uma das constatações – considerando a importância do conhecimento financeiro para a vida das pessoas, de todas as faixas de idade e renda – é que o baixo nível de letramento financeiro merece reflexão e intensificação das ações governamentais e da participação de outros stakeholders, como associações, sindicatos, entidades de classe, escolas, cooperativas, reguladores, agentes do sistema financeiro e demais instituições aglutinadoras e preocupadas com a educação e com o bem-estar financeiro das famílias.

Como o relatório destaca, a educação financeira não envolve apenas a aquisição de conhecimento, mas tem que ser capaz de promover a mudança de atitude, de valores e de comportamento para que seja efetiva. Portanto, não existe resposta simples para o problema e uma única solução não seria suficiente. É preciso um esforço conjunto, no sentido de integrar várias ações, por parte do governo e da sociedade civil, além da utilização de abordagens adequadas a cada público, dependendo da necessidade. A essa conclusão, acrescentamos nossa experiência de que toda ação no território brasileiro demanda diversidade e complementação de meios e canais de comunicação, tão amplos e abrangentes quanto a diversidade da população.

Como fazer para que a próxima “fotografia” seja melhor?

Cada um pode buscar ampliar seu letramento e nível de educação financeira. Mas as soluções têm que ser institucionais, coletivas, ainda que independentes. É preciso que cada líder governamental, comunitário ou empresarial contribua. Uma andorinha só não faz verão. A educação financeira pode não resolver todos os problemas do país e do mundo, mas com certeza não cria nenhum e pode melhorar a vida de muita gente.

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