O corretor de seguros e o código de vestimenta

Será que o corretor de seguros deve se apresentar sempre de terno e gravata?

Renato Cunha Bueno é sócio-diretor da ARX Re Corretora de Resseguros e coordenador da Comissão Grandes Riscos e Resseguros do Sincor-SP
Renato Cunha Bueno é sócio-diretor da ARX Re Corretora de Resseguros e coordenador da Comissão Grandes Riscos e Resseguros do Sincor-SP

Quando iniciei na profissão, 40 anos atrás, era inadmissível um profissional ser visto sem terno e gravata. Uma ocasião encontrei um colega muito elegante que estava desempregado, enquanto eu caminhava com o diretor da seguradora para a qual trabalhava, pelo centro da cidade, região que à época abrigava praticamente todas as grandes empresas de São Paulo. Éramos amigos deste profissional e meu chefe ficou muito bravo com ele. “Como você tem coragem de vir ao Centro de roupa esporte? Assim você se desvaloriza e se alguém te vir ficará com uma má impressão. Volte para casa agora e só reapareça no Centro trajado adequadamente”. O amigo, totalmente envergonhado, saiu de fininho e foi embora com o rabo entre as pernas.

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Muita coisa mudou de lá para cá. Mesmo o Lloyd’s de Londres, que frequento há mais de 20 anos como corretor de resseguros, mudou. Antigamente, mulheres não eram admitidas, os homens tinham cabelos curtos e ninguém tirava o paletó e a gravata nem dentro nem fora do Lloyd’s. Alguns hábitos ainda se mantêm, afinal de contas a Inglaterra é a terra da tradição. Ternos só pretos, cinzas ou azul marinho e o sapato sempre preto, jamais marrom, e nunca blazer! Em compensação eles hoje barbarizam nas meias, forros de paletós e gravatas, tudo super colorido, e nos escritórios dos corretores a grande maioria trabalha sem gravata e sem paletó, os jovens com a camisa fora da calça.

Aqui no Brasil as coisas também se transformaram, só que mais radicalmente. A princípio veio a sexta-feira casual e algumas seguradoras, ainda com muita preocupação com a aparência formal, chegaram a contratar consultorias de profissionais da moda como da Gloria Kalil, para “educar” e deixar os funcionários mais chiques. Depois, aos poucos, os funcionários de empresas do mercado segurador e financeiro foram se liberando das gravatas e passaram a se vestir à maneira de Mahmoud Ahmadinejad, ex presidente do Irã, de terno e sem gravata, e logo os blazers sem gravata passaram a dominar.

Nada contra o uso de ternos e gravatas ou qualquer tipo de roupa, cada um que se apresente como gosta, mas a verdade é que a grande maioria das pessoas se veste cada vez mais de forma casual e confortável usando inclusive jeans, camisas polo, sapatos mocassim e até tênis e camisetas.

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Para minha surpresa, recebi uma notícia publicada no jornal O Estado de S. Paulo, que de tão surpreendente reproduzo integralmente:

Itaú Unibanco libera dress code ao gosto de cada colaborador

Depois de liberar o uso da bermuda na vestimenta diária, em resposta a uma demanda dos funcionários do seu Centro de Tecnologia, o Itaú Unibanco foi além. A partir deste mês, cada um dos seus mais de 85 mil colaboradores Brasil afora poderá escolher o traje de cada dia a seu bel-prazer. De camiseta, de tênis, de terno, de jeans e até de bermuda. O novo dress code do Itaú tem como mote “o nosso jeito tem seu estilo”.

Bom senso. A iniciativa, que começa a vigorar no banco a partir de amanhã, tem apenas duas regras: o bom senso e o cliente em primeiro lugar. As unidades externas do Itaú, que somam outros cerca de 14 mil funcionários, vão avaliar como aplicar a adoção do novo dress code.

Por isso, hoje aconselho: trabalhe bem, seja responsável e bom profissional, pois a aparência não resolve mais o problema de ninguém. Isso sem esquecer a boa regra do Itaú Unibanco: “bom senso e o cliente em primeiro lugar”.

*Por Renato Cunha Bueno, sócio-diretor da ARX Re Corretora de Resseguros e coordenador da Comissão Grandes Riscos e Resseguros do Sincor-SP.

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